quinta-feira, 17 de março de 2011

Cores, Sabores, Cheiros e Sons


A feira perdeu seu som. O único som que se escuta é o som do valor da oferta. Não é a atração e sim a competição pelo menor preço. Virou um grande pregão de valores hortifrutigranjeiro.



Andar pelas feiras hoje é algo sem muitas surpresas, sem nada que nos surpreenda ou cative. Porém, se essa caminhada for feita com um olhar mais detalhado, com calma e sem nenhum interesse na compra dos produtos, podemos encontrar um universo encantador. Um verdadeiro elo entre o passado e o presente da humanidade. Pois é, tivemos uma bela e grata surpresa em encontrar a senhora Maria. Ela estava na calçada, atrás de uma barraca, encostada em um muro centenário do centro do Rio. Com uma concentração quase autista, ela exercia uma função de ligação com o passado. Uma volta na história daquele local e no resgate do trabalho manual do início da nossa colonização. Com a paciência e sabedoria de uma senhora de 80 anos de idade e 65 de feira, ela descascava com os dedos o feijão de corda que seria vendido logo em seguida na barraca. Nesse momento percebi o valor da tradição, pois provavelmente se essa senhora não ensinar essa função para alguém, ninguém mais o fará.



Voltemos à feira...


Conversando com um barraqueiro, perguntamos para ele o porquê não se ouve mas os brados, cantos e rimas dos feirantes? Ele respondeu: que as pessoas que trabalham na feira hoje não são mais os feirantes. Hoje eles são comerciantes, não produzem mais, compram direto do CEASA (Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro S/A) e revendem nas feiras e ainda fornecem para pequenas lojas de bairros.




Continuamos a circular, ainda na esperança de encontrar algum som para relatar em nossa pesquisa. Enquanto não encontravamos, fomos pego pelos cheiros, cores e sabores das barracas que encontravamos no caminho. Achamos e provamos seriguelas, pitombas e artigos de vaidades. Percebemos que a escrita agora substitui a fala para atrair o cliente até a banca.



Ainda tem gente que venda arte da arte que é achada no lixo e revendida na feira. Tinha um rapaz vendendo gravuras do Alfred Sisley (1839, Francês de ascendência e nacionalidade britânica) e Albrecht Dürer (1512, Húngaro. Foi nomeado pintor de corte de Maximiliano I), por apenas R$ 5,00 cada gravura, mas por R$ 7,00 levariamos as duas. Além dos alimentos, temos também pintores renomados a venda nas feiras do Rio.



Uma rosca salvou o nosso dia. Isso mesmo, uma rosca...

Estavamos já quase indo embora, quando ao longe ouvimos um canto: Olha ele ai...rosca!!!!





O “Rosca” é a sensação da feira da Glória. É o único que canta e brinca com os clientes. Seu canto é ouvido a mas de 50 metros e causa curiosidade e expectativa com a sua chegada. Ele canta, brada por toda feira. Vende muito, pois seus trocadilhos provocam curiosidade e pela sua simpatia e humor e suas frases encantam e os clientes compram. Ele mesmo estimula que outras pessoas pronunciem seus bordões e suas piadas. Clientes de todas as idades comem a sua rosca. Ele já é uma celebridade da feira. Já foi até entrevistado do Programa do Jô.




Ver e ouvir esse cara é sensacional, pois ele é exatamente o que procuramos na pesquisa. Ele usa de todos os possíveis fundamentos da cameloturgia. Ter o produto, o argumento, um roteiro pré-estabelecido de piadas, um canto que atrai, bom humor, simpatia e muito improviso é o que um bom Cameloturgo tem que ter para conquistar seu público/plateia. Temos muito o que aprender com ele.



Todos esses registro em foto e vídeo está sendo feito por Sandra Calaça que é atriz, produtora, fotografa e é integrante da companhia Será O Benidito?!, desde final de 2010. Vem colaborando na pesquisa da Oralidade e Cameloturgia fazendo esse belíssimo registro de vídeo e fotos nas feiras, ruas e lugares escolhidos para compor a nossa pesquisa. Sandrinha, obrigado pela colaboração com suas belas fotos e seu olhar sensível e aguçado que está acrescentando muito para nossa pesquisa. Obrigado!!!!


Inté breve,


vou ali mais volto já....vou comprar maracujá.