domingo, 5 de junho de 2011

Camelódromo – os novos escravos de ganho.



Achamos que incluir o Mercado Popular, mas conhecido como Camelódromo, na pesquisa seria o mais obvio e um excelente lugar para acharmos informações para o trabalho. Porém, foi um grande risco que corremos. Estavamos no meio das observações e dos registros fotográficos, quando nos demos conta que estávamos sobre os olhares desconfiados e repressores de varias pessoas. Não podemos ir adiante, pois o local é constantemente vigiado e vistoriado pela Policia Federal, para repreender a pirataria. Só ai que descobrimos que eles desconfiam de qualquer tipo de registro que é feito do local. Muitas das pessoas que trabalham lá são presas sempre que a policia aparece por lá. Sendo que quase todos que vão presos são empregados e acabam tendo complicações com a policia. Nesse mesmo dia, por duas vezes fomos abordados por pessoas querendo saber para que e para onde eram as fotos. Sendo que essas perguntas eram em um tom ameaçador. Só nos restou ir embora.

Quando saímos do local, um pouco acuados e assustados, paramos em uma lanchonete para recuperar o fôlego depois da tamanha tensão. A nossa primeira avaliação desse momento foi que estávamos de volta ao passado. Esses trabalhadores são os novos escravos de ganho da modernidade. Não são escravos por uma questão de cor, mas pela condição em que se encontram. Muitos só trabalham ali por já estarem desempregados ou por ganharem baixos salários em outros empregos. Quem são os senhores desses escravos de ganho? Esses senhores nunca são presos. Eles lotam as barracas com produtos piratas e dão esse sub-emprego para qualquer um que queira correr o risco de ser preso ou ser cúmplice de um industria que gera bilhões em dinheiro nos mercados populares do nosso País e no Mundo.


Outra observação é que os camelos já não são os mesmo. Poucos usam a arte da palavra para vender mais. Descobrimos que quase todos os produtos têm os preços combinados. Não à sedução ou a espetacularização da oralidade.

Tivemos somente um único senhor, que na hora que estamos indo embora, estava com um relógio dourado na mão e gritava: Ele mandou vender, ele mandou vender......é o Rolex do Silvio Santos. Ele está sem dinheiro e mandou vender. Rolex do Silvio Santos...



Genial!!!!! O cara estava só com um relógio na mão, mas tinha um excelente argumento. Ele usou o nome e a situação financeira de uma figura que desperta a curiosidade de todos. Ele está ligado nos estímulos e argumentos do cotidiano que podem facilitar a aproximação, criar a teatralização para finalizar a venda.

O que acho mais genial, é que nesse momento, esse senhor nos lembrou que nessa pesquisa temos que fazer uma reverência ao camelo mais famoso do Brasil, Silvio Santos. Isso mesmo o homem do baú.

Depois da tensão, ufa, vamos em frente por que...
Silvio Santos vem ai!!!!! Laia, laia, laia...
Silvio Santos vem ai!!!!! Laia, laia, laia...


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Saara de Hoje.



Circular pelo SAARA estava em nosso cronograma de pesquisa, pois é o local que tem um tradição dos pregões nas portas das lojas. Fomos atrás dessa tradição e da comunicação sonora que é produzida por esse encontro de tradição e modernidade.

Por lá encontramos os Locutores de porta de loja, eles são a modernização de uma função que é exercida pelo SAARA há anos. Essa mesma função normalmente é executada por uma pessoa contratada pelo lojista e que fica na porta das lojas anunciando, ofertando e chamando os milhares de clientes que transitam pelas apertadas ruas do SAARA. Essa função já teve outros nomes ao longo dos séculos que de existência desse complexo de lojas. Já transitaram por essas ruas os Marreteiros. Eles perambulavam pelas ruas com suas mercadorias e produtos, era uma extensão das vendas das lojas. Eles param de transitar para ficarem fixo na porta das lojas e ai surgiu o Pregoeiro. Figuras que ficavam nas portas, com frase e bordões, anunciando as ofertas como um grande pregão de preços na disputa pelos clientes. Essa função foi se modernizando e adquirindo outras formas de abordagem e técnica de comunicação. Daí aparece também o Boleiro, um dos nomes da mesma função que ainda existe e que habita as ruas do SAARA. Boleiros são os locutores que ficam na porta das lojas dando bola para os clientes e joga a bola para os vendedores, daí vem a expressão “boleiro”. Essa função é milenar, muda de nome, incorpora uma ou outra nova característica mas está sempre presente nas portas das lojas e na sonoridade das ruas e esquinas do SAARA.

A radio Saara é um parágrafo a parte, pois é uma radio que só se ouve quando se transita pelo SAARA. Um sistema de alto-falante que toca musica, dá noticias entrevistas, orações e o que tem de interessante, atraente e cômico são os anúncios das lojas só do SAARA que são veiculados como uma mensagem subliminar. Você ouve tantas vezes que sai com as frase e musicas anunciados presas na cabeça como um chiclete sonoro.

– Eu quero é casar, eu quero casar, eu quero casar!!!! Eu quero cabelo, eu quero cabelo. Lá na BigHair eu compro meus cabelos. Cabelos 100% hidratados, aplique, perucas eu quero comprar.


Rosemilton dos Santos – trabalha como locutor a 6 anos. Ex- tecelão e diz está procurando um homônimo. Reclama que os donos das lojas agora estão colocando gravações na porta das lojas, mas diz que os boleiros são melhores para chamar cliente.


Alexandre Vicente – DJ e trabalha com eventos. Tem que ter atitude. Tem que falar o que o publico gosta de ouvir. Já participou dos programas “Amor e Sexo” e especial de fim de ano da Regina Cazé.


Vander – locutor e vendedor da loja de malhas



Leandro Alves – Locutor de óculos.



Essa nossa pesquisa está sendo um grande cadarço cultural que faz as amarras da cameloturgia, a arte e a nossa oralidade com som e cores.

Ruas da SAARA


As ruas do que é hoje a SAARA foram urbanizadas ainda no século XVIII, décadas antes da chegada da corte portuguesa no Brasil. A principal rua da região, a rua da Alfândega, é também a mais antiga. Ela existia já no século XVII, com o nome de Caminho do Capueruçu. Fazia a ligação entre a Várzea ( começava na antiga Rua Direita, atual Primeiro de Março ) e a Lagoa do Capueruçu, na chamada "boca do sertão", caminho direto para Minas Gerais.

Até 1716, quando passou a ser rua da Alfândega, chamou-se também rua da Quitanda do Marisco, rua dos Governadores - porque nela ficava a residencial dos governadores -, rua de Santa Efigênia, rua do Oratório de Pedra - porque um oratório de pedra nela existiu ali na esquina da Regente Feijó - rua de São Gonçalo Garcia e finalmente rua da Alfândega. A rua Senhor dos Passos chamou-se originalmente caminho de Fernão Gomes. Recebeu o nome atual por causa da capela que nela foi erguida em 1737 sob a invocação do Senhor dos Passos. Paralela a esta rua, a rua Buenos Aires foi em outros tempos chamada de rua do Hospício. Esta denominação veio de um asilo fundado por frades capuchos italianos, num quarteirão próximo à Rua Direita. A partir de 1915 a antiga Rua do Hospício veio a se chamar Buenos Aires.

Entre as ruas transversais, a principal é a Avenida Passos, que ganhou este nome após as reformas que o engenheiro Pereira Passos, então prefeito, implantou na cidade. Rua do Sacramento era o seu antigo nome, por nela estar situada a igreja dessa invocação, matriz da Freguesia do Sacramento. Outra rua importante é a Avenida Tomé de Souza, continuação da rua República do Líbano. Já teve os nomes de SEgunda Travessa de São Joaquim e rua do Núncio, antigamente uma conhecida zona de meretrício da cidade.

Vizinhas a esta rua estão as ruas Regente Feijó - antiga Primeira Travessa de São Joaquim - e Gonçalves Ledo, que outrora foi chamada de rua de São Jorge, e as ruas da Conceição e dos Andradas.

As datas festivas tradicionais provocam, durante todo o ano, grande movimentação no comércio da Saara. São marcadas pela decoração das ruas, que com simplicidade acompanha a passagem do calendário. A festa que mais leva compradores para a região é o Natal, que torna as ruas da Alfândega, Senhor dos Passos e transversais verdadeiros formigueiros humanos durante todo o mês de dezembro, em busca de ofertas e baixos preços. As lojas de especiarias árabes expõem em suas bancas nozes, avelãs e tâmaras, importadas do Oriente, e também bacalhau e azeite portugueses.