A Oralidade e a Cameloturgia
Uma pesquisa cênica do Porto ao Rio
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Nos Trilhos... A encenação!!!
domingo, 17 de junho de 2012
ORALIDADE PREMIADA
PESQUISA ORALIDADE GANHA PRÊMIO
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Na Arena do Itaú Cultural...
domingo, 28 de agosto de 2011
Começa a Semana Rumos Teatro!
O Imaginário e Será O Benidito?! |
A semana Rumos Teatro foi oficialmente aberta no dia 26.08.11, sexta-feira, às 20h, pelo ensaísta e professor de arte, tecnologia e cultura Laymert Garcia dos Santos, com sua fala sobre “Teatro, Mito, História e Tecnologia. Considerações sobre a Atualidade da Articulação entre os Quatro Termos”.
pesquisa Florestas e Antas, Experiências Teatrais – Em Busca de um Teatro Possível
18h
com Grupo de Teatro Celeiro das Antas (DF) e Teatro Experimental de Alta Floresta (MT)
sala Itaú Cultural 247 lugares
[indicado para todas as idades]
pesquisa Salsichão no Boquerão/Tainha na Prainha
[distribuição única de ingressos às 19h30]
20h
Erro Grupo (SC) apresenta Seminar Pornosuspense
piso térreo
21h
Cia. Silenciosa (PR) apresenta El Gran Cabaret Porno
piso térreo
[indicado para maiores de 18 anos]
sábado, 27 de agosto de 2011
Ensaio Olha O Dado.
Para esse ator, tudo é estímulo para o seu jogo. Ele é ator, autor, diretor, produtor, contraregra de seu trabalho. E, muitas vezes, é tudo isso ao mesmo tempo de acordo com as necessidades da rua. A demanda da rua acaba por determinar as necessidades deste trabalho do cameloturgo. A rua é viva. Pulsante.
E o cameloturgo com as suas múltiplas antenas capta e muda os rumos do trabalho – sem perder a essência - de acordo com as necessidades vindas do público; a mulher apressada que corta a roda sem se dar conta da apresentação: A senhora tem dado em casa? Além de inusitados acontecimentos – o bailarino que repentinamente adentra a cena - Música de Ballet para ele bailar! Além dos múltiplos sons da cidade que a qualquer momento podem interferir - como os quatro helicópteros que sobrevoavam os céus do Recreio dos Bandeirantes. Eles vieram me homenagear. Ou o badalar dos sinos da igreja na praça em que se apresenta: é o sino anunciando a próxima cena.
O cameloturgo está no espaço público, no espaço de todos. Não só dele. Ele reparte o espaço com o restante da população; com o passante, o gringo, o mendigo, a moça, o bêbado, o casal, o trabalhador, a criança. E fala de perto ao coração de cada um. Olha no olho de cada um. Chama-os pelo nome. Brinca com cada um. È nesse instante – através do humor - que começa a ter com cada pessoa uma relação próxima quase de cumplicidade, ao adquirir a confiança deles, começa a trazê-los para a roda.
E uma grande roda vai-se formando com a participação espontânea de cada anônimo que adquire uma identidade e uma cidadania plena ao estabelecer com a rua e com os outros cidadãos uma relação igualitária, através do humor e da brincadeira.
Evocação do Recife
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
- Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê
na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!
A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão
(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)
De repente
nos longos da noite
um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.
Rua da União...
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
- Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras
Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
- Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.
Manuel Bandeira.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
CAMELOTURGIA
O Cameloturgo é o dramaturgo das suas historias e de sua arte/produtos. Com os eternos e atraentes bordões, verbetes, brados e trovas que soam pelas praças, calçadas, feiras, camelódromos, mercados centrais e nas ruas das cidades brasileiras que se repete e se reinventam a cada instante e cada relação estabelecida. Sendo com um roteiro pensado e elaborado com as características do produto que se oferta ou um roteiro de idéias ou cenas que são criadas a partir de uma arte, o que se faz na rua é um cameloturgia. Quando se tem na assistência, uma platéia sempre participativa e próxima vivendo ou comprando a ideai ou mensagem que está sendo transmitida direta e sem intermédios externos, se instaura a arte e comunicação.
Assim como nas feiras medievais - aonde transitavam milhares de pessoas - os centros urbanos de hoje estão mais populosos, frenéticos, barulhentos e apressados pelo poder do relógio. Nessas condições, o Cameloturgo tem que ter um poder de encantamento, sedução e de verbo muito maior que dos seus antepassados ou contemporâneos. Tendo sempre que estimular e aguçar a curiosidade do publiente (publico e cliente) com a sua arte e ou produto, ele usa com total maestria muita comicidade, sensualidade, improviso, saltos e trocadilhos diversos criando assim a base da cameloturgia.
A criação e a construção dessa cameloturgia está sendo feita ao longo de alguns milhares de anos e já faz parte do imaginário e da cultura oral da humanidade. É trabalho e pesquisa de vários artistas e trabalhadores das ruas e praças por todo o mundo. Todos, inconscientemente, caminham para a mesma direção e buscam a valorização e a perpetuação dessa cultura milenar.
Essa é uma arte que vem diretamente do povo e volta sempre para o povo. Não podemos catalogá-la somente como arte de rua, performance, teatro, intervenção, performance, saltimbancos ou cameloturgia. Está e vai continuar em constante desenvolvimento. Não é uma pesquisa conclusiva, mas sim uma pesquisa reflexiva sobre o tema. Podemos e devemos pensar na arte de rua como uma arte maior ou melhor como a “Arte das Possibilidades”
Evoé!!!!
Inté!!!!!
terça-feira, 23 de agosto de 2011
O CHAPÉU
Os artistas que estão nas praças, ruas e feiras do mundo, não contam com o aparato das salas. Eles só contam com a sua relação de afeto e de estabelecer confiança e conquistar a platéia até o fim da apresentação, sem que eles partam no meio do espetáculo, show, performance ou qualquer uma das formas de expressão artística que habitam as cidades.
O chapéu é a contribuição afetiva do publico e uma forma de participar e dizer que gostou. A valorização do artista de rua se faz também através da generosidade do publico, que não paga para entrar, mas oferta o quanto pode para dizer que gostou e que dentro do que lhe é possível gostaria de pagar pelos instantes de felicidade e entretenimento ofertado pelo artista. Algo que só na rua é possível. O artista de rua não é um pedinte. Ele oferece a sua arte para a cidade e como qualquer outro profissional, tem sua função no quadro social e ele tem que receber por isso. Tem suas contribuições tributarias e sua sobrevivência diária como qualquer outro profissional. É a relação da troca que estabelece seus ganhos ou perdas. Se não houver troca de afeto, confiança, cumplicidade, não tem o retorno, pois não se estabelece a roda. Então não tendo publico ele não recebe
O povo brasileiro é o mais alegre, generoso e solidário do mundo. A arte de rua só afirma o que digo, pois esse mesmo povo contribui com o que tem. Já presenciamos caso de valores altos a moedas de pessoas de classes e situações de vida diferentes. Pessoas que para a arte de rua não importa sua origem ou condição, é publico. Distinta das suas classificações sócias, elas querem contribuir e se sentem bem em retribuir com o que pra ela é “muito de nada” ou “pouco de muito”.
As maiores dificuldades para o artista de rua ainda são a arrecadação e a chuva. Para a chuva ainda não temos a solução. Porém para a arrecadação, já estão surgindo varias formas, estratégias e possibilidades de rentabilizar e engordar o chapéu. A forma tradicional de esperar o final do espetáculo, já não é o melhor momento, pois com a vida corrida e a hora apertada, boa parte das pessoas não fica até o final. Mas verdadeiras estratégias vão surgindo e sendo testadas. Alguns artistas trabalham com a dita “Bilheteria aberta”, aquela que o espectador pode contribuir a qualquer momento do espetáculo. Tem quem agregue valores a produtos e ao espetáculo, como exemplo: dentro da apresentação tem um numero com Malabares, essas mesmas bolinhas são oferecidas como produto e ainda no final, se ensina a jogar as bolinhas. Tem outros valores agregados, como bonecos artesanais fabricados pelos próprios artistas, adesivos, camisetas com a estampa do grupo ou espetáculo, CD’s com a trilha sonora ou piadas do show e para quem pode produzir, o DVD com a apresentação que o publico acabou de assistir. Tem quem goste de presentear a platéia como sedução, exemplo: quem coloca uma nota de um valor especifico ganha um brinde, que pode ser pulseira, chaveiro, adesivo, nariz de palhaço ou qualquer lembrança que tenha co-relação com o artista ou com o que se apresenta. Sendo assim, o publico não só contribui com o tradicional chapéu, como leva uma lembrança do espetáculo ou do artista para sua casa.
Todas essas formas e estratégias de passar o chapéu é um estimulo ao exercício da Cameloturgia. Vale usar nessa hora a habilidade de uma boa conversa e um bom argumento para na hora certa passar o chapéu. Transformar o chapéu em uma atração pode ser um divertimento a mais para o publico, que entende o código e o momento de sua participação.
Fica uma sugestão. Na divulgação dos espetáculos vários espetáculos colocam em suas filipetas, faixas, banner e email de divulgação as seguintes frase: “Apresentação Gratuita”, “Entrada Franca” ou “Espetáculo Grátis”. No lugar dessas frases, que indicam que o publico não pagaria nada para assistir, pode surgir substitutos que indique que o publico pode contribuir e pode participar com algum valor. Afinal de contas estarmos na rua tem um preço e o nosso trabalho não é de graça. A sugestão é: coloquem frase que indicativas como “Bilheteria Espontânea”, “Contribuição Afetiva” ou “Bilheteria Aberta”. Essas frases são somente sugestões de varias possibilidades que cada artista, coletivo ou grupo pode achar para divulgar que a sua arte não é sem valor ou que ao oferecer seu trabalho o artista espera reconhecimento também financeiro. Recentemente usamos em uma filipeta de divulgação uma dessas frases, o que prontamente foi compreendido com muito bom humor por que recebia a filipeta e o que gerou um bom resultado no chapéu.
Estimular o publico a compreender e a respeitar o oficio da arte de rua é importantíssimo. Pois é uma arte tão fundamental para a desobstrução das artérias das cidades que pulsam sem parar pessoas com suas imperfeições, anseios e sonhos.
“As maiores dificuldades para o artista de rua é a arrecadação e a chuva”.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
10 Possibilidades de Uma Boa Cameloturgia.
Como parte da pesquisa, vamos tentar chegar a 10 caminhos para estabelecer a Cameloturgia. Falaremos em possibilidades, pois usar os termos regra ou passos a passo pode restringir a investigação e o processo de pesquisa de cada coletivo ou individuo que queira trabalhar ou exercitar as possibilidades cênicas da Cameloturgia.
1. Um bom Produto/Espetáculo;
2. Bons Argumentos/Cenas;
3. Fazer um esquenta ou quebra gelo com o Cliente/Publico;
4. Estabelecer uma relação de confiança e de troca com o Cliente/Publico;
5. Ter um roteiro ou argumentos flexíveis para saber por onde começar ou terminar a apresentação;
6. Conhecer bem o produto/espetáculo, os argumentos/cenas e saber pra quem esta falando;
7. Deixar que eles estabeleçam o ritmo, a dinâmica e até onde pode ir a troca;
8. Estar atento aos estímulos, as necessidades e as demandas que surgem para transformá-los em possibilidades de troca;
9. Se possível oferte algo aos participantes diretos para estimular a troca e gerar um bom retorno na Receita/Chapéu;
10. Alcançar o resultado final que é a satisfação do publiente, sendo bom para você e ótimo para eles.
Essas são 10 possibilidades, de muitas, para se estabelecer a Cameloturgia. Lembrando que isso é uma pesquisa artística teatral, então não podemos falar como se fossem regras ou um conceito fechado de arte. Não vamos afirmar nada que não se afirma. Acreditamos que arte é parte do ser humano e por isso não podemos estabelecer o que é certo ou errado, para o que está sempre em constante transformação.