Circular pelo SAARA estava em nosso cronograma de pesquisa, pois é o local que tem um tradição dos pregões nas portas das lojas. Fomos atrás dessa tradição e da comunicação sonora que é produzida por esse encontro de tradição e modernidade.
Por lá encontramos os Locutores de porta de loja, eles são a modernização de uma função que é exercida pelo SAARA há anos. Essa mesma função normalmente é executada por uma pessoa contratada pelo lojista e que fica na porta das lojas anunciando, ofertando e chamando os milhares de clientes que transitam pelas apertadas ruas do SAARA. Essa função já teve outros nomes ao longo dos séculos que de existência desse complexo de lojas. Já transitaram por essas ruas os Marreteiros. Eles perambulavam pelas ruas com suas mercadorias e produtos, era uma extensão das vendas das lojas. Eles param de transitar para ficarem fixo na porta das lojas e ai surgiu o Pregoeiro. Figuras que ficavam nas portas, com frase e bordões, anunciando as ofertas como um grande pregão de preços na disputa pelos clientes. Essa função foi se modernizando e adquirindo outras formas de abordagem e técnica de comunicação. Daí aparece também o Boleiro, um dos nomes da mesma função que ainda existe e que habita as ruas do SAARA. Boleiros são os locutores que ficam na porta das lojas dando bola para os clientes e joga a bola para os vendedores, daí vem a expressão “boleiro”. Essa função é milenar, muda de nome, incorpora uma ou outra nova característica mas está sempre presente nas portas das lojas e na sonoridade das ruas e esquinas do SAARA.
A radio Saara é um parágrafo a parte, pois é uma radio que só se ouve quando se transita pelo SAARA. Um sistema de alto-falante que toca musica, dá noticias entrevistas, orações e o que tem de interessante, atraente e cômico são os anúncios das lojas só do SAARA que são veiculados como uma mensagem subliminar. Você ouve tantas vezes que sai com as frase e musicas anunciados presas na cabeça como um chiclete sonoro.
– Eu quero é casar, eu quero casar, eu quero casar!!!! Eu quero cabelo, eu quero cabelo. Lá na BigHair eu compro meus cabelos. Cabelos 100% hidratados, aplique, perucas eu quero comprar.
Rosemilton dos Santos – trabalha como locutor a 6 anos. Ex- tecelão e diz está procurando um homônimo. Reclama que os donos das lojas agora estão colocando gravações na porta das lojas, mas diz que os boleiros são melhores para chamar cliente.
Alexandre Vicente – DJ e trabalha com eventos. Tem que ter atitude. Tem que falar o que o publico gosta de ouvir. Já participou dos programas “Amor e Sexo” e especial de fim de ano da Regina Cazé.
Vander – locutor e vendedor da loja de malhas
Leandro Alves – Locutor de óculos.
Essa nossa pesquisa está sendo um grande cadarço cultural que faz as amarras da cameloturgia, a arte e a nossa oralidade com som e cores.
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