Debruçados sobre o material recolhido e absorvido pelas historias e imagens apreendidas na memória, na retina, também gravadas e fotografadas, observamos uma confluência das histórias sobre a necessidade de trilhar novos rumos.
O povo beiradeiro* é um povo que trilha caminhos. Pelo rio, pela mata e também pelos trilhos, quando do funcionamento da Estrada de Ferro. Caminhos de sobrevivência, afim de continuar a viver, a ser, a existir. Resistindo as necessidades impostas pela natureza: épocas de chuva em abundância e de secas terríveis. Um solo frágil. Mas um lugar que também oferece muitas dádivas, como peixes, frutas e mandioca para farinha.
Encontramos muitos personagens nestes caminhos e podemos observar sua relação com o ambiente. São pessoas que vieram de fora ou nasceram ali de pais que vieram de outros lugares.
A construção da cena partiu do encontro com estes personagens, do tempo de suas falas, das poses que seus corpos produziam, da atitude perante a vida. Nasceram as características do Coronel do Barranco, do Caboclo, da Menina filha do Coronel, dos Encantados, dos Estrangeiros...
A cena ganhou uma polifonia**, ou dialogismo***, como trata Mikhail Bakhtin: “linguagem em ação”. Um princípio de que todo enunciado lingüístico se fundamenta sobre um diálogo implícito.
“Os textos polifônicos se caracterizam pela falta de acabamento e de solução do herói. A posição do autor em relação ao herói é dialógica, proporcionando, do início ao fim, autonomia e liberdade interna. O texto, não sendo fechado, permitirá ao leitor maior produção de sentidos – a polifonia.” Claudiana Soerensen A PROFUSÃO TEMÁTICA EM MIKHAIL BAKHTIN: DIALOGISMO, POLIFONIA E CARNAVALIZAÇÃO
Desta forma procuramos construir uma cena onde a diversidade das falas proporciona ao espectador uma variedade de sensações e estímulos.
* Pessoa que mora às margens.
**Polifonia, Entre os gregos antigos, reunião de vozes ou de instrumentos.
***Dialogismo, Arte do diálogo, Figura que reproduz em diálogo as idéias das personagens.
Leo Carnevale
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