sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Tradição da Oralidade.

Nosso tema de pesquisa é a oralidade, pois a própria cameloturgia faz parte da oralidade que ouvimos nas bocas dos vendedores, artistas e simpáticos demonstradores de sua arte com venda.

Com a proximidade dos dias dos pais aflorou o sentimento paterno que normalmente nos acomete nessas datas. Pedro tem 6 anos, e já é considerado – por ele mesmo e por nós – integrante da Companhia. Recentemente ele nos despertou uma reflexão que não tínhamos nos dado conta. Com o pensamento e os olhos voltados para a pesquisa e a rotina de trabalho, não tínhamos percebido que aproximadamente a 3 anos e indiretamente, já começávamos a maior e melhor pesquisa sobre a oralidade.

Com 3 anos de idade Pedro – filho de André Garcia Alvez e Ludmilla Silva – já desenhava a sua vontade de experimentar a brincadeira dos pais. Um dia depois de uma apresentação, deixamos os figurinos em um canto secando. Ele foi bem devagar, sem que ninguém visse, vestiu a camisa, o chapéu de palhaço e pegou o pandeiro do pai e começou a repetir baixinho as frases, piadas e musicas do espetáculo que ele já tinha assistido uns 2 anos seguidos de seus 3 anos de vida.



A surpresa foi geral, pois nunca ninguém tinha pedido para ele fazer aquilo, falar aquelas frase ou até mesmo pedido para vestir as roupas. Todos ficaram surpresos. Assim que se deu conta que fora descoberto, não se intimidou. Viu que consegui formar uma platéia pequena de parentes e amigos e voltou a repetir alto para quem assistia o que antes falava baixo e sozinho. Esse momento foi realmente inesquecível para todos nós. 

Alguns dias passaram e esse episódio foi comentado com o Pirajá, amigo e professor nosso, que é professor da Escola Nacional de Circo e é de família tradicional circense. O pai do Pirajá, o “Seu Agostinho”, também foi um grande amigo e professor da Companhia. Bom, o fato é que esses senhores já há alguns anos, estão sempre diretamente ligados a nossa pesquisa circense. Sempre que eles passam a sua técnica e sabedoria par algum dos integrantes da Companhia, a arte milenar do Circo se mantém viva. Quando Pirajá soube que o Pedro já estava se assanhando, ele nos passou algumas entradas e algumas reprises para ensinarmos a ele.



E assim foi. Ouvimos o que o Pirajá falou. Falamos e passamos para o Pedro. Que repetiu e reproduziu como uma grande brincadeira. As gargalhadas, fomos repetindo e refazendo as entradas e reprises aprendidas.

Logo na mesma semana, quando o Pedro recebeu a visita de um parente, ele quis fazer e mostrar a brincadeira nova. Mais uma platéia conquistada.

A Companhia, junto com outros amigos artistas, coordena o projeto Boa Praça Encontro. Esse projeto é um excelente espaço de experimentações e estréias para arte de rua. O Pedro, quase dois meses depois das primeiras brincadeiras e de alguns pedidos para se apresentar no Boa Praça, surgiu a oportunidade de atender o pedido. Ensaiamos, providenciamos o figurino e marcamos a data. Ele estava eufórico para participar, ao lado do seu pai de uma apresentação.



Pois é, essa apresentação aconteceu em Maio de 2009. De lá pra cá já foram algumas outras tantas que já nem sabemos quantas ele já fez ou qual teria sido a melhor apresentação.

Hoje em 2011, ele está iniciando a sua alfabetização. Só agora é que percebemos que ele decorou falas, sabe marcas e ainda improvisa com o tema e volta para o roteiro, sem nunca ter lido uma linha desse roteiro.


Recentemente, fomos surpreendidos por mais uma faceta dessa tal de oralidade. O mesmo menino Pedro, que estava ajudando a montar o equipamento do espetáculo da companhia, resolveu se arriscar em outra função. Depois de montarmos o nosso equipamento de som e tudo já estar no lugar, começamos o nosso esquenta. Esse esquenta é simplesmente uma conversa com o publico, com uma musica de fundo enquanto nos arrumamos e maquiamos. Só esse movimento já ajuda a formar a roda. Sendo que os atores que estão com o microfone ligado, estão totalmente ligados a todos os estímulos que passam e transformam em conversa e brincadeiras para abrir a roda. Ele perguntou se poderia ajudar no esquenta e se poderia ficar com um microfone para ajudar. Foi dado o microfone. Não é que o moleque saiu a repetir as frases e as brincadeiras que os atores fazem e isso sem ninguém pedir que ele repetisse as tais frases e brincadeiras. 



É. Só agora é que percebemos o quanto é forte e infindável essa tal de oralidade. Quando acontece dentro do nosso processo de trabalho não temos o tamanho exato dela. Foi preciso parar para pesquisar e descobrir que a oralidade já estava ali, bem do nosso lado, crescendo, brincando e se divertindo com o que os pais (família Olimecha) do “Seu Agostinho” passaram para ele. Com o que “Seu Agostinho” passou para o Pirajá. E com o que o Pirajá ainda passa para os pais do Pedro. Que o próprio Pedro, provavelmente passará para alguém no futuro. 




Obrigado Pedro pelo maravilhoso aprendizado.

Viva o Circo !!!!!!
Viva o Teatro de Rua !!!!!!
Viva a Cultura Nacional !!!!!
Viva a Tradição da Cultura Oral !!!!!!!

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