terça-feira, 5 de julho de 2011

Silvio e a Cameloturgia.

Lendo, pesquisando e aprofundando na biografia do apresentador Silvio Santos, há 50 anos no AR, reparamos que ele só é o que é por ter sido um bom camelô. Ele emprega até hoje técnicas e malandragens na abordagem, na comunicação e principalmente na relação com o publico ou como ele mesmo chama “colegas de trabalho”. A partir de uma matéria que saiu no encarte “Revista da TV”, que achamos no meio de uma pilha de jornais velhos é que despertou o interesse em saber um pouco mais sobre a trajetória da vida desse senhor que quando menino foi camelô.



Silvio Santos nasceu na Lapa boêmia do Rio de Janeiro. Filho de imigrantes gregos e que tiveram seis filhos, a família Abravanel vivia com poucos recursos. De seus irmão, Silvio, desde muito cedo mostrou-se um grande visionário. Como a família não era uma família rica e o pai gastava o pouco que tinha em jogatina, Silvio teve ai a sua motivação para não depender do dinheiro de seus pais.


A eleição Presidencial de 1946 foi o marco na vida do jovem Abravanel. Andando pela Av. Rio Branco ele reparou um aglomerado de pessoas e foi olhar. Era um homem que vendia capas para titulo de eleitor. Muitas pessoas compravam as capinhas, pois já fazia 15 anos que não tinha eleições. Silvio tinha 16 anos e ficou intrigado como ele vendia rápido as capinhas e resolveu entender melhor como era isso. Ficou olhando o homem vender as capas e depois, sem que o ele percebesse, seguiu-o até a loja que ele comprava as capinhas. Era na rua Buenos Aires (SAARA) e o Silvio constatou que ele lucrava mais de 50% vendendo para os transeuntes. Pronto, Silvio esperou o homem sair da loja e com o único dinheiro que tinha – uma moeda de 2 Cruzeiros - comprou uma capinha e foi para a Av. Rio Branco vender. Levantou a capinha no ar e falou que era a ultima e vendeu rapidamente a capa. Pegou o dinheiro, voltou na loja e comprou duas capas e voltou para a Avenida. Com o mesmo discurso de serem as ultimas, ele vendeu as capinhas e logo em seguida retorna a loja e faz uma nova compra de uma quantidade maior. Assim Silvio diz ter começado sua promissora carreira de camelô.

O ponto preferido de Silvio era a Av. Rio Branco esquina com a 7 de Setembro ou a Ouvidor. Naquela época ele diz que só tinham 12 ou 13 pessoas vendendo na rua e vendiam produtos de baixa qualidade. Não gostava da forma que esses camelôs vendiam, ele achava que sendo um estudante, não poderia usar a mesma linguagem. Até que um dia ele conheceu o “Seu Augusto”, o alemão das canetas. “Seu Augusto” ficava na esquina da Av. Rio Branco com a Av. Presidente Vargas, só vendia canetas e trabalhava somente uma hora por dia. Enquanto “Seu Augusto” vendia 100 a 200 canetas por hora, os outros camelos levavam de 7 a 8 horas para vender meia dúzia. Como “Seu Augusto” era considerado o melhor camelô do Rio de Janeiro, Silvio resolveu entender como era o trabalho dele e ficou dias só observando. Não tinha nada que os outros camelô não fizessem, porém Silvio reparou que ao abrir a sua barraquinha dobrável e expor suas canetas, “Seu Augusto” começava sempre com uma boa conversa com o publico, que logo aglomerava na sua frente. Ele explicava as funções da caneta e suas qualidades, até que dava o preço e em instantes vendia todas as canetas. Depois de ficar dias olhando e estudando o alemão, Silvio mandou fazer uma barraquinha igual ao dos outros camelos, foi no atacadista comprou canetas e foi para o seu ponto preferido. Como não tinha certeza se iria conquistar o publico só com a fala, aprendeu umas manipulações com moeda e baralho. Assim com as manipulações, reparou que as pessoas paravam para assistir e pessoas de todos os tipos, idades e classes sociais. Ele aproveitava entre uma manipulação e outra – garoto bem falante – começava a explicar as qualidades, funções e o “diferencial”, como substituir a bombinha da borracha ou a pena. Pronto, em alguns dias ele já vendia mais que o “Seu Augusto” e por diversas vezes os jornais publicaram reportagens sobre um menino que com suas mágicas, prendia um enorme publico a sua frente.

Esse mesmo menino que fazia mágicas, hoje é o grande apresentador de televisão. Mesmo sendo o apresentador há mais tempo no ar na televisão brasileira, Silvio não deixa de lado a sua percepção de camelô. Há anos Silvio Santos repete um ritual antes de gravar seu programa, ele vai até a plateia - formada exclusivamente por mulheres - e conta piadas. O "esquenta", como ele chama, só termina depois de quase uma hora, quando percebe que suas "colegas de trabalho" estão às gargalhadas. Só assim ele inicia as gravações do programa. Usando essa e outras técnicas adquiridas com a Cameloturgia, é que se torna um dos maiores comunicadores da História da televisão brasileira.


Conversar, brincar, contar piadas ou fazer mágicas é o que faz com que um bom camelô se aproxime de seu publico. Uma vez estando próximo, ele consegue através da confiança adquirida, dar o seu recado ou vender o seu produto. Fazer o esquenta, tendo como partida a oralidade e a comunicação verbal e física é fundamental para se estabelecer a Cameloturgia.

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