domingo, 28 de agosto de 2011

Começa a Semana Rumos Teatro!

O Imaginário e Será O Benidito?!


A semana Rumos Teatro foi oficialmente aberta no dia 26.08.11, sexta-feira, às 20h, pelo ensaísta e professor de arte, tecnologia e cultura Laymert Garcia dos Santos, com sua fala sobre “Teatro, Mito, História e Tecnologia. Considerações sobre a Atualidade da Articulação entre os Quatro Termos”. 



No sábado, às 16h, assistimos à demonstração da pesquisa O Ator Animador e o Processo Criativo no Teatro de Animação, com as cias Caixa do Elefante (RS) e PeQuod (RJ), que apresentaram um vídeo sobre o processo dos dois grupos e depois um bate-papo com  a platéia. Mais tarde tivemos a pesquisa da Cia. Teatro Autônomo (RJ) e Os Irmãos Guimarães (DF).

Hoje, domingo, nós do O Imaginário teremos ensaio às 11h na arena do Itaú Cultural. E de tarde as programações continuam!

domingo 28

pesquisa Florestas e Antas, Experiências Teatrais – Em Busca de um Teatro Possível
18h
com Grupo de Teatro Celeiro das Antas (DF) e Teatro Experimental de Alta Floresta (MT)
sala Itaú Cultural 247 lugares
[indicado para todas as idades]

pesquisa Salsichão no Boquerão/Tainha na Prainha
[distribuição única de ingressos às 19h30]

20h
Erro Grupo (SC) apresenta Seminar Pornosuspense
piso térreo

21h
Cia. Silenciosa (PR) apresenta El Gran Cabaret Porno
piso térreo
[indicado para maiores de 18 anos]

sábado, 27 de agosto de 2011

Ensaio Olha O Dado.

Nos ensaios para a demonstração de Olha o Dado! que nos da Cia Será o Benidito!? apresentaremos no Itaú Rumos, em São Paulo, entramos em contato com um tipo de ator “maestro”. Aquele que rege tanto uma partitura de cenas ensaiadas quanto as variantes da rua interferindo a todo instante. É o cameloturgo André Garcia Alvez que com os seus dados propõe ao cidadão uma relação diferente, um jogo divertido. Invertendo a relação com a própria cidade. E, como conseqüência ou premissa, acaba por reinventar-se. É também um dado variante, que varia a cada instante.

Destemido como um camelô de rua, de feira, ou até mesmo como um ambulante da praia, este ator abre a roda no movimentado centro financeiro do Rio de Janeiro, brincando com o bordão: O senhor/a senhora tem dado em casa? È assim que começa a abrir a roda e a se apresentar. A partir de então tudo pode acontecer. Lançando mão da cameloturgia, André incorpora ao trabalho todos os imprevistos, como se estes fossem o fermento do bolo que é a sua arte.

Tudo isso nos remete ao Grupo Tá na Rua e à Oficina de Ana Carneiro no anos 90, onde entramos em contato com essa linguagem apaixonante e a qual André busca aprofundar-se. A liberdade do ator e a pesquisa da linguagem que melhor se adequa ao espaço aberto.
Para esse ator, tudo é estímulo para o seu jogo. Ele é ator, autor, diretor, produtor, contraregra de seu trabalho. E, muitas vezes, é tudo isso ao mesmo tempo de acordo com as necessidades da rua. A demanda da rua acaba por determinar as necessidades deste trabalho do cameloturgo. A rua é viva. Pulsante.

E o cameloturgo com as suas múltiplas antenas capta e muda os rumos do trabalho – sem perder a essência - de acordo com as necessidades vindas do público; a mulher apressada que corta a roda sem se dar conta da apresentação: A senhora tem dado em casa? Além de inusitados acontecimentos – o bailarino que repentinamente adentra a cena - Música de Ballet para ele bailar! Além dos múltiplos sons da cidade que a qualquer momento podem interferir - como os quatro helicópteros que sobrevoavam os céus do Recreio dos Bandeirantes. Eles vieram me homenagear. Ou o badalar dos sinos da igreja na praça em que se apresenta: é o sino anunciando a próxima cena.


O cameloturgo está no espaço público, no espaço de todos. Não só dele. Ele reparte o espaço com o restante da população; com o passante, o gringo, o mendigo, a moça, o bêbado, o casal, o trabalhador, a criança. E fala de perto ao coração de cada um. Olha no olho de cada um. Chama-os pelo nome. Brinca com cada um. È nesse instante – através do humor - que começa a ter com cada pessoa uma relação próxima quase de cumplicidade, ao adquirir a confiança deles, começa a trazê-los para a roda.
E uma grande roda vai-se formando com a participação espontânea de cada anônimo que adquire uma identidade e uma cidadania plena ao estabelecer com a rua e com os outros cidadãos uma relação igualitária, através do humor e da brincadeira.

Evocação do Recife

Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
- Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê
na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!

A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão

(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)
De repente
nos longos da noite
um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.

Rua da União...
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
- Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
- Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.

Manuel Bandeira.






quarta-feira, 24 de agosto de 2011

CAMELOTURGIA

“A RUA E A CENA”

A arte de rua e o camelo estão ligados diretamente na formação da cultura urbana da humanidade. Essas duas artes estão ligadas em suas essências, pois seja nas feiras, praças, calçadas ou camelódromos vai ter sempre um vendedor/artista ou um artista/vendedor, fazendo uma Performance Urbana do Cotidiano. Essas peformances são estabelecidas dentro de um roteiro afetivo e de percepção, aguçando a curiosidade dos que passam e mantendo os que já estão parados assistindo por horas as suas promessas, ofertas, novidades e divertimentos. Assim, com essa relação estabelecida que é verdadeira, intensa, pulsante e de risco surge a cameloturgia.

O Cameloturgo é o dramaturgo das suas historias e de sua arte/produtos. Com os eternos e atraentes bordões, verbetes, brados e trovas que soam pelas praças, calçadas, feiras, camelódromos, mercados centrais e nas ruas das cidades brasileiras que se repete e se reinventam a cada instante e cada relação estabelecida. Sendo com um roteiro pensado e elaborado com as características do produto que se oferta ou um roteiro de idéias ou cenas que são criadas a partir de uma arte, o que se faz na rua é um cameloturgia. Quando se tem na assistência, uma platéia sempre participativa e próxima vivendo ou comprando a ideai ou mensagem que está sendo transmitida direta e sem intermédios externos, se instaura a arte e comunicação.

Assim como nas feiras medievais - aonde transitavam milhares de pessoas - os centros urbanos de hoje estão mais populosos, frenéticos, barulhentos e apressados pelo poder do relógio. Nessas condições, o Cameloturgo tem que ter um poder de encantamento, sedução e de verbo muito maior que dos seus antepassados ou contemporâneos. Tendo sempre que estimular e aguçar a curiosidade do publiente (publico e cliente) com a sua arte e ou produto, ele usa com total maestria muita comicidade, sensualidade, improviso, saltos e trocadilhos diversos criando assim a base da cameloturgia.


Nesse grande "Teatro Rústico" das artes de rua três elementos sempre marcaram e delimitam o acontecimento dessas performances urbanas. Teremos “o que fala”, “o que para e escuta” e “o que se oferta”. Nem por isso vai ser menos espetacular e menos valoroso do que qualquer outra arte. Seja o Camelo, o Saltimbanco, o Curandeiro, o Musico, o Circense, o Repentista, o Capoeirista, o Mágico ou um bom contador de histórias, terá sempre uma linguagem estética de cena com base no camelô de rua e na dramaturgia popular. O roteiro, as cenas e a dramaturgia vão ser fragmentadas e de improviso.


A criação e a construção dessa cameloturgia está sendo feita ao longo de alguns milhares de anos e já faz parte do imaginário e da cultura oral da humanidade. É trabalho e pesquisa de vários artistas e trabalhadores das ruas e praças por todo o mundo. Todos, inconscientemente, caminham para a mesma direção e buscam a valorização e a perpetuação dessa cultura milenar.

Essa é uma arte que vem diretamente do povo e volta sempre para o povo. Não podemos catalogá-la somente como arte de rua, performance, teatro, intervenção, performance, saltimbancos ou cameloturgia. Está e vai continuar em constante desenvolvimento. Não é uma pesquisa conclusiva, mas sim uma pesquisa reflexiva sobre o tema. Podemos e devemos pensar na arte de rua como uma arte maior ou melhor como a “Arte das Possibilidades”

Axé!!!!!

Evoé!!!!

Inté!!!!!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O CHAPÉU

“Tradição e Valorização”



O simbolismo do chapéu é milenar. Tem seu início na Grécia, passa pela idade media e chega aos nossos dias. A arte surge nas praças e ruas junto com a formação das primeiras cidades. Esses artistas que foram aprisionados e taxados com o surgimento das salas teatrais - invento da burguesia da idade media que potencializou o que se lucrava nas ruas - deixou de passar o chapéu e criou a bilheteria. Distanciando a arte de rua de suas origens e de seu publico, pois só assiste quem pode pagar e não que quer. 


Os artistas que estão nas praças, ruas e feiras do mundo, não contam com o aparato das salas. Eles só contam com a sua relação de afeto e de estabelecer confiança e conquistar a platéia até o fim da apresentação, sem que eles partam no meio do espetáculo, show, performance ou qualquer uma das formas de expressão artística que habitam as cidades.


O chapéu é a contribuição afetiva do publico e uma forma de participar e dizer que gostou. A valorização do artista de rua se faz também através da generosidade do publico, que não paga para entrar, mas oferta o quanto pode para dizer que gostou e que dentro do que lhe é possível gostaria de pagar pelos instantes de felicidade e entretenimento ofertado pelo artista. Algo que só na rua é possível. O artista de rua não é um pedinte. Ele oferece a sua arte para a cidade e como qualquer outro profissional, tem sua função no quadro social e ele tem que receber por isso. Tem suas contribuições tributarias e sua sobrevivência diária como qualquer outro profissional. É a relação da troca que estabelece seus ganhos ou perdas. Se não houver troca de afeto, confiança, cumplicidade, não tem o retorno, pois não se estabelece a roda. Então não tendo publico ele não recebe

O povo brasileiro é o mais alegre, generoso e solidário do mundo. A arte de rua só afirma o que digo, pois esse mesmo povo contribui com o que tem. Já presenciamos caso de valores altos a moedas de pessoas de classes e situações de vida diferentes. Pessoas que para a arte de rua não importa sua origem ou condição, é publico. Distinta das suas classificações sócias, elas querem contribuir e se sentem bem em retribuir com o que pra ela é “muito de nada” ou “pouco de muito”.

Porque e pra quem passar o chapéu? Será que é para manter a tradição e a cultura da valorização dos sentimentos humanos ou a sobrevivência? Esse gesto mantém o publico habituado a contribuir com o que viu e gostou. Muitos artistas não conseguem um patrocínio, apoio ou estimulo financeiro para estarem nas ruas. Porém, se os que conseguem não mantiverem essa relação de troca com a platéia, os muitos que sem o respaldo financeiro de projetos ou captação, passarem pelas mesmas praças que outros subvencionados passam e não roda o chapéu, a relação afetiva da troca não foi estabelecido. Quem quis e não contribuiu ou que não foi estimulado a colaborar, certamente se sentira constrangido ou sem o interesse em contribuir e dar o que instintivamente daria. Tem que difundir a idéia de que o publico é o grande patrocinador da arte de rua e da cultura nacional. Contribuir no chapéu é uma das formas que o publico tem de expressar o quanto gostou e quer contribuir da forma que pode, com quanto pode e quando pode com o que acabou de assistir.



As maiores dificuldades para o artista de rua ainda são a arrecadação e a chuva. Para a chuva ainda não temos a solução. Porém para a arrecadação, já estão surgindo varias formas, estratégias e possibilidades de rentabilizar e engordar o chapéu. A forma tradicional de esperar o final do espetáculo, já não é o melhor momento, pois com a vida corrida e a hora apertada, boa parte das pessoas não fica até o final. Mas verdadeiras estratégias vão surgindo e sendo testadas. Alguns artistas trabalham com a dita “Bilheteria aberta”, aquela que o espectador pode contribuir a qualquer momento do espetáculo. Tem quem agregue valores a produtos e ao espetáculo, como exemplo: dentro da apresentação tem um numero com Malabares, essas mesmas bolinhas são oferecidas como produto e ainda no final, se ensina a jogar as bolinhas. Tem outros valores agregados, como bonecos artesanais fabricados pelos próprios artistas, adesivos, camisetas com a estampa do grupo ou espetáculo, CD’s com a trilha sonora ou piadas do show e para quem pode produzir, o DVD com a apresentação que o publico acabou de assistir. Tem quem goste de presentear a platéia como sedução, exemplo: quem coloca uma nota de um valor especifico ganha um brinde, que pode ser pulseira, chaveiro, adesivo, nariz de palhaço ou qualquer lembrança que tenha co-relação com o artista ou com o que se apresenta. Sendo assim, o publico não só contribui com o tradicional chapéu, como leva uma lembrança do espetáculo ou do artista para sua casa.

Todas essas formas e estratégias de passar o chapéu é um estimulo ao exercício da Cameloturgia. Vale usar nessa hora a habilidade de uma boa conversa e um bom argumento para na hora certa passar o chapéu. Transformar o chapéu em uma atração pode ser um divertimento a mais para o publico, que entende o código e o momento de sua participação.

Fica uma sugestão. Na divulgação dos espetáculos vários espetáculos colocam em suas filipetas, faixas, banner e email de divulgação as seguintes frase: “Apresentação Gratuita”, “Entrada Franca” ou “Espetáculo Grátis”. No lugar dessas frases, que indicam que o publico não pagaria nada para assistir, pode surgir substitutos que indique que o publico pode contribuir e pode participar com algum valor. Afinal de contas estarmos na rua tem um preço e o nosso trabalho não é de graça. A sugestão é: coloquem frase que indicativas como “Bilheteria Espontânea”, “Contribuição Afetiva” ou “Bilheteria Aberta”. Essas frases são somente sugestões de varias possibilidades que cada artista, coletivo ou grupo pode achar para divulgar que a sua arte não é sem valor ou que ao oferecer seu trabalho o artista espera reconhecimento também financeiro. Recentemente usamos em uma filipeta de divulgação uma dessas frases, o que prontamente foi compreendido com muito bom humor por que recebia a filipeta e o que gerou um bom resultado no chapéu.



Estimular o publico a compreender e a respeitar o oficio da arte de rua é importantíssimo. Pois é uma arte tão fundamental para a desobstrução das artérias das cidades que pulsam sem parar pessoas com suas imperfeições, anseios e sonhos.



“As maiores dificuldades para o artista de rua é a arrecadação e a chuva”.

“Importante era fazer algo que o público gostasse e depois ter dinheiro no chapéu. O dinheiro era a conseqüência de quanto o público gostava do que eu fazia”.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

10 Possibilidades de Uma Boa Cameloturgia.



Como parte da pesquisa, vamos tentar chegar a 10 caminhos para estabelecer a Cameloturgia. Falaremos em possibilidades, pois usar os termos regra ou passos a passo pode restringir a investigação e o processo de pesquisa de cada coletivo ou individuo que queira trabalhar ou exercitar as possibilidades cênicas da Cameloturgia.

1. Um bom Produto/Espetáculo; 

2. Bons Argumentos/Cenas;

3. Fazer um esquenta ou quebra gelo com o Cliente/Publico;

4. Estabelecer uma relação de confiança e de troca com o Cliente/Publico;

5. Ter um roteiro ou argumentos flexíveis para saber por onde começar ou terminar a apresentação;

6. Conhecer bem o produto/espetáculo, os argumentos/cenas e saber pra quem esta falando;

7. Deixar que eles estabeleçam o ritmo, a dinâmica e até onde pode ir a troca;

8. Estar atento aos estímulos, as necessidades e as demandas que surgem para transformá-los em possibilidades de troca;

9. Se possível oferte algo aos participantes diretos para estimular a troca e gerar um bom retorno na Receita/Chapéu;

10. Alcançar o resultado final que é a satisfação do publiente, sendo bom para você e ótimo para eles.

Essas são 10 possibilidades, de muitas, para se estabelecer a Cameloturgia. Lembrando que isso é uma pesquisa artística teatral, então não podemos falar como se fossem regras ou um conceito fechado de arte. Não vamos afirmar nada que não se afirma. Acreditamos que arte é parte do ser humano e por isso não podemos estabelecer o que é certo ou errado, para o que está sempre em constante transformação.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Tradição da Oralidade.

Nosso tema de pesquisa é a oralidade, pois a própria cameloturgia faz parte da oralidade que ouvimos nas bocas dos vendedores, artistas e simpáticos demonstradores de sua arte com venda.

Com a proximidade dos dias dos pais aflorou o sentimento paterno que normalmente nos acomete nessas datas. Pedro tem 6 anos, e já é considerado – por ele mesmo e por nós – integrante da Companhia. Recentemente ele nos despertou uma reflexão que não tínhamos nos dado conta. Com o pensamento e os olhos voltados para a pesquisa e a rotina de trabalho, não tínhamos percebido que aproximadamente a 3 anos e indiretamente, já começávamos a maior e melhor pesquisa sobre a oralidade.

Com 3 anos de idade Pedro – filho de André Garcia Alvez e Ludmilla Silva – já desenhava a sua vontade de experimentar a brincadeira dos pais. Um dia depois de uma apresentação, deixamos os figurinos em um canto secando. Ele foi bem devagar, sem que ninguém visse, vestiu a camisa, o chapéu de palhaço e pegou o pandeiro do pai e começou a repetir baixinho as frases, piadas e musicas do espetáculo que ele já tinha assistido uns 2 anos seguidos de seus 3 anos de vida.



A surpresa foi geral, pois nunca ninguém tinha pedido para ele fazer aquilo, falar aquelas frase ou até mesmo pedido para vestir as roupas. Todos ficaram surpresos. Assim que se deu conta que fora descoberto, não se intimidou. Viu que consegui formar uma platéia pequena de parentes e amigos e voltou a repetir alto para quem assistia o que antes falava baixo e sozinho. Esse momento foi realmente inesquecível para todos nós. 

Alguns dias passaram e esse episódio foi comentado com o Pirajá, amigo e professor nosso, que é professor da Escola Nacional de Circo e é de família tradicional circense. O pai do Pirajá, o “Seu Agostinho”, também foi um grande amigo e professor da Companhia. Bom, o fato é que esses senhores já há alguns anos, estão sempre diretamente ligados a nossa pesquisa circense. Sempre que eles passam a sua técnica e sabedoria par algum dos integrantes da Companhia, a arte milenar do Circo se mantém viva. Quando Pirajá soube que o Pedro já estava se assanhando, ele nos passou algumas entradas e algumas reprises para ensinarmos a ele.



E assim foi. Ouvimos o que o Pirajá falou. Falamos e passamos para o Pedro. Que repetiu e reproduziu como uma grande brincadeira. As gargalhadas, fomos repetindo e refazendo as entradas e reprises aprendidas.

Logo na mesma semana, quando o Pedro recebeu a visita de um parente, ele quis fazer e mostrar a brincadeira nova. Mais uma platéia conquistada.

A Companhia, junto com outros amigos artistas, coordena o projeto Boa Praça Encontro. Esse projeto é um excelente espaço de experimentações e estréias para arte de rua. O Pedro, quase dois meses depois das primeiras brincadeiras e de alguns pedidos para se apresentar no Boa Praça, surgiu a oportunidade de atender o pedido. Ensaiamos, providenciamos o figurino e marcamos a data. Ele estava eufórico para participar, ao lado do seu pai de uma apresentação.



Pois é, essa apresentação aconteceu em Maio de 2009. De lá pra cá já foram algumas outras tantas que já nem sabemos quantas ele já fez ou qual teria sido a melhor apresentação.

Hoje em 2011, ele está iniciando a sua alfabetização. Só agora é que percebemos que ele decorou falas, sabe marcas e ainda improvisa com o tema e volta para o roteiro, sem nunca ter lido uma linha desse roteiro.


Recentemente, fomos surpreendidos por mais uma faceta dessa tal de oralidade. O mesmo menino Pedro, que estava ajudando a montar o equipamento do espetáculo da companhia, resolveu se arriscar em outra função. Depois de montarmos o nosso equipamento de som e tudo já estar no lugar, começamos o nosso esquenta. Esse esquenta é simplesmente uma conversa com o publico, com uma musica de fundo enquanto nos arrumamos e maquiamos. Só esse movimento já ajuda a formar a roda. Sendo que os atores que estão com o microfone ligado, estão totalmente ligados a todos os estímulos que passam e transformam em conversa e brincadeiras para abrir a roda. Ele perguntou se poderia ajudar no esquenta e se poderia ficar com um microfone para ajudar. Foi dado o microfone. Não é que o moleque saiu a repetir as frases e as brincadeiras que os atores fazem e isso sem ninguém pedir que ele repetisse as tais frases e brincadeiras. 



É. Só agora é que percebemos o quanto é forte e infindável essa tal de oralidade. Quando acontece dentro do nosso processo de trabalho não temos o tamanho exato dela. Foi preciso parar para pesquisar e descobrir que a oralidade já estava ali, bem do nosso lado, crescendo, brincando e se divertindo com o que os pais (família Olimecha) do “Seu Agostinho” passaram para ele. Com o que “Seu Agostinho” passou para o Pirajá. E com o que o Pirajá ainda passa para os pais do Pedro. Que o próprio Pedro, provavelmente passará para alguém no futuro. 




Obrigado Pedro pelo maravilhoso aprendizado.

Viva o Circo !!!!!!
Viva o Teatro de Rua !!!!!!
Viva a Cultura Nacional !!!!!
Viva a Tradição da Cultura Oral !!!!!!!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Varadouro - ensaio aberto

VARADOURO


Ensaio aberto na sede do O Imaginário, dia 17.08.11 às 20 horas, para 40 convidados.

A cena está sendo construída a partir do processo de pesquisa "A oralidade e a cameloturgia" e faz parte do Programa Rumos Itaú Cultural Teatro, e será apresentada dia 30.08.11 em São Paulo, durante a Semana Rumos Teatro.


Semana Rumos Teatro



Uma semana dedicada ao teatro. De 26 de agosto a 3 de setembro, o Rumos traz à sede do Itaú Cultural, em São Paulo, cerca de 200 artistas selecionados do programa Rumos Teatro, que vão abrir seus processos de pesquisa para o público.

Além dos debates e apresentações, acontecem palestras com especialistas e o lançamento do livro Próximo Ato: Teatro de Grupo, resultado de um mapeamento de cinco anos. Com foco no teatro de grupo, o programa apoiou 12 projetos de diferentes estados do país, cada um deles reunindo dois grupos, que trabalharam em intercâmbio. 


No site Itaú Cultural, você acessa a programação completa, com biografias de todos os grupos e descrição dos projetos. Conheça também os blogs produzidos pelos grupos no desenvolvimento das pesquisas.

Semana Rumos Teatro
sexta 26 de agosto a sábado 3 de setembro
Acesse a matéria

entrada franca [ingressos distribuídos com meia hora de antecedência]

Itaú Cultural | Avenida Paulista 149 - São Paulo SP [próximo à Estação Brigadeiro do Metrô]

imagem: Cláudia Ribeiro/divulgação


terça 30

pesquisa A Oralidade e a Cameloturgia − Uma Pesquisa Cênica do Porto ao Rio

18h
Será o Benedito? (RJ) apresenta Olha o Dado
rampa do metrô do Centro Cultural São Paulo
[indicado para todas as idades]

O Imaginário (RO) apresenta Varadouro
20h - 1ª sessão
20h45 - 2ª sessão
arena 90 lugares
[indicado para maiores de 16 anos]

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

NA ENCHENTE DO RIO A ENCHENTE DE GENTE.



Quando o rio enche, os cardumes de peixes sobem o rio a deslizar, contra a correnteza, a remontar o rio, a transpor em saltos impressionantes corredeiras e até pequenas cachoeiras, em busca de águas tranqüilas. A Piracema, tupi-guarani pirá hecê piraquã ou melhor, pirá apuã hecê1. “Avenida de pescado” no dicionário de Montoya2.


A “gente” também se acomete como os peixes em busca da salvação, do ganha pão. Ganhando terra, ganhando chão, abrindo trilha, subindo o rio, varando o seu destino. Vias de vidas, vidas pelos caminhos.


1 Pirá – peixe; hecê – saltar; piraquã – cardume; apuã – subir; hecê – aos saltos

2 Padre Antonio Ruiz Montoya (1876)


Leo Carnevale

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Humanidade Busca Caminhos


Debruçados sobre o material recolhido e absorvido pelas historias e imagens apreendidas na memória, na retina, também gravadas e fotografadas, observamos uma confluência das histórias sobre a necessidade de trilhar novos rumos.

O povo beiradeiro* é um povo que trilha caminhos. Pelo rio, pela mata e também pelos trilhos, quando do funcionamento da Estrada de Ferro. Caminhos de sobrevivência, afim de continuar a viver, a ser, a existir. Resistindo as necessidades impostas pela natureza: épocas de chuva em abundância e de secas terríveis. Um solo frágil. Mas um lugar que também oferece muitas dádivas, como peixes, frutas e mandioca para farinha.

Encontramos muitos personagens nestes caminhos e podemos observar sua relação com o ambiente. São pessoas que vieram de fora ou nasceram ali de pais que vieram de outros lugares.

A construção da cena partiu do encontro com estes personagens, do tempo de suas falas, das poses que seus corpos produziam, da atitude perante a vida. Nasceram as características do Coronel do Barranco, do Caboclo, da Menina filha do Coronel, dos Encantados, dos Estrangeiros...


 Somos todos estrangeiros. Desde o começo do mundo o homem foi um viajante nômade, sem pouso, em busca de sobrevivência, em busca de um lugar. Estamos sempre em busca. Homens que vieram construir uma vida. Sempre varando trilhas em busca de caminhos.

A cena ganhou uma polifonia**, ou dialogismo***, como trata Mikhail Bakhtin: “linguagem em ação”. Um princípio de que todo enunciado lingüístico se fundamenta sobre um diálogo implícito.

“Os textos polifônicos se caracterizam pela falta de acabamento e de solução do herói. A posição do autor em relação ao herói é dialógica, proporcionando, do início ao fim, autonomia e liberdade interna. O texto, não sendo fechado, permitirá ao leitor maior produção de sentidos – a polifonia.” Claudiana Soerensen A PROFUSÃO TEMÁTICA EM MIKHAIL BAKHTIN: DIALOGISMO, POLIFONIA E CARNAVALIZAÇÃO

Desta forma procuramos construir uma cena onde a diversidade das falas proporciona ao espectador uma variedade de sensações e estímulos.



* Pessoa que mora às margens.
**Polifonia, Entre os gregos antigos, reunião de vozes ou de instrumentos.
***Dialogismo, Arte do diálogo, Figura que reproduz em diálogo as idéias das personagens. 

Leo Carnevale