sábado, 27 de agosto de 2011

Ensaio Olha O Dado.

Nos ensaios para a demonstração de Olha o Dado! que nos da Cia Será o Benidito!? apresentaremos no Itaú Rumos, em São Paulo, entramos em contato com um tipo de ator “maestro”. Aquele que rege tanto uma partitura de cenas ensaiadas quanto as variantes da rua interferindo a todo instante. É o cameloturgo André Garcia Alvez que com os seus dados propõe ao cidadão uma relação diferente, um jogo divertido. Invertendo a relação com a própria cidade. E, como conseqüência ou premissa, acaba por reinventar-se. É também um dado variante, que varia a cada instante.

Destemido como um camelô de rua, de feira, ou até mesmo como um ambulante da praia, este ator abre a roda no movimentado centro financeiro do Rio de Janeiro, brincando com o bordão: O senhor/a senhora tem dado em casa? È assim que começa a abrir a roda e a se apresentar. A partir de então tudo pode acontecer. Lançando mão da cameloturgia, André incorpora ao trabalho todos os imprevistos, como se estes fossem o fermento do bolo que é a sua arte.

Tudo isso nos remete ao Grupo Tá na Rua e à Oficina de Ana Carneiro no anos 90, onde entramos em contato com essa linguagem apaixonante e a qual André busca aprofundar-se. A liberdade do ator e a pesquisa da linguagem que melhor se adequa ao espaço aberto.
Para esse ator, tudo é estímulo para o seu jogo. Ele é ator, autor, diretor, produtor, contraregra de seu trabalho. E, muitas vezes, é tudo isso ao mesmo tempo de acordo com as necessidades da rua. A demanda da rua acaba por determinar as necessidades deste trabalho do cameloturgo. A rua é viva. Pulsante.

E o cameloturgo com as suas múltiplas antenas capta e muda os rumos do trabalho – sem perder a essência - de acordo com as necessidades vindas do público; a mulher apressada que corta a roda sem se dar conta da apresentação: A senhora tem dado em casa? Além de inusitados acontecimentos – o bailarino que repentinamente adentra a cena - Música de Ballet para ele bailar! Além dos múltiplos sons da cidade que a qualquer momento podem interferir - como os quatro helicópteros que sobrevoavam os céus do Recreio dos Bandeirantes. Eles vieram me homenagear. Ou o badalar dos sinos da igreja na praça em que se apresenta: é o sino anunciando a próxima cena.


O cameloturgo está no espaço público, no espaço de todos. Não só dele. Ele reparte o espaço com o restante da população; com o passante, o gringo, o mendigo, a moça, o bêbado, o casal, o trabalhador, a criança. E fala de perto ao coração de cada um. Olha no olho de cada um. Chama-os pelo nome. Brinca com cada um. È nesse instante – através do humor - que começa a ter com cada pessoa uma relação próxima quase de cumplicidade, ao adquirir a confiança deles, começa a trazê-los para a roda.
E uma grande roda vai-se formando com a participação espontânea de cada anônimo que adquire uma identidade e uma cidadania plena ao estabelecer com a rua e com os outros cidadãos uma relação igualitária, através do humor e da brincadeira.

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